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Resumos

Arquivar o teatro como uma representação colaborativa de afeto*
Heike Roms
*Comunicação em inglês

Pensa-se frequentemente que o maior obstáculo ao arquivamento do trabalho teatral é a sua qualidade efémera. Nesta palestra, vou propor que um desafio ainda maior reside na natureza coletiva do teatro e na sua autoria distribuída. Ao discutir vários exemplos recentes de trabalho de arquivo coletivo, a palestra irá questionar: como podemos conceber o arquivamento do teatro como uma representação colaborativa de afeto?

Arte de arquivo, pensar os arquivos a partir do Sul*
Pía Gutiérrez Días e Katharina Eitner
*Comunicação em castelhano

Como pensamos os arquivos do Sul? Nesta intervenção, Katharina Eitner e Pía Gutiérrez, ambas membros do coletivo Arde no Chile, propõem-se rever as abordagens à prática arquivística na arte performativa a partir do contexto chileno e latino-americano. O foco será nos arquivos e na utilização dos seus acervos. Sem dúvida, o trabalho de arquivo tornou-se um instrumento de criação, investigação e visibilização das práticas das artes vivas, mas nos nossos territórios exigem criatividade para gerar estratégias de sobrevivência. Com base em algumas abordagens teóricas, a exposição irá aprofundar as experiências dos arquivos de artes performativas.

Centro de Documentação Teatral: criação, atuação e perspectivas
Elizabeth Azevedo

A apresentação deverá fazer tanto um histórico quanto um balanço sobre o Centro de Documentação Teatral existente na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Abordará a forma de constituição do centro, decorrente de sua condição de órgão universitário. A seguir, serão vistas as escolhas estratégico-metodológicas  assumidas pela coordenação em face da realidade paulistana, e mesmo nacional, da estrutura das entidades de preservação do patrimônio artístico e cultural. Por fim, serão apresentados exemplos do acervo custodiado, com especial relevância à questão teórica da organização arquivística de acervos pessoais, bem como as iniciativas de pesquisas a partir da  massa documental existente.

INCOMMON. In praise of community. Shared creativity in arts and politics in Italy (1959-1979)*
Marco Baravalle
*Comunicação em inglês

INCOMMON. Em louvor à comunidade. A criatividade partilhada nas artes e na política em Itália (1959-1979) foi um projeto de investigação financiado pelo Conselho Europeu de Investigação e organizado pela IUAV, Universidade de Veneza. INCOMMON pretendia ser o primeiro estudo a analisar sistematicamente o campo das artes performativas como resultado da prática de comunhão, tanto teorizada como experienciada ao longo das décadas de 1960 e 1970. Em particular, o projecto teve como objectivo estudar a história do “laboratório Itália” como o lugar onde a contracultura artística expressa pelas artes performativas surgiu num ambiente caracterizado por uma profunda relação entre filosofia, política e práticas revolucionárias.

Se o arquivo é o locus que possivelmente interrompe uma narração evolutiva linear da história da performance e da arte, para nós ele é também um repositório de relações. Ao longo do projeto temos interrogado frequentemente os arquivos à luz de quem e do que neles estava ausente ou periférico, num esforço de reparação daquilo que se tornou inarquivável. Ao mesmo tempo, este esforço de reparação não foi orientado no sentido de impor uma nova disciplina ao desempenho radical italiano. Não era um princípio taxonómico para nos guiar. Em vez disso, foi a urgência política de restaurar o potencial subversivo dos organismos e vozes rebeldes que foram cancelados ou normalizados após a derrota dos movimentos sociais das décadas de 1960 e 1970.

Foi com esta urgência que trabalhei durante vários meses no arquivo privado de Giuliano Scabia, uma das figuras seminais da vanguarda teatral italiana desse período. Em particular, centrar-me-ei na relevância do conceito de “descentralização” no questionamento das formas teatrais tradicionais e das estruturas institucionais, e nas ações de descentralização de Scabia: um exemplo de teatro participativo orientado por assembleias que ele implementou no meio das lutas ferozes dos trabalhadores, do chamado “outono quente” de 1969 em Turim.

Um outro teatro? A presença queer no MNTD
André Murraças

Através de uma selecção de espectáculos de teatro com tons queer apresentados em Lisboa desde 1982 até início de 2000, e presentes de forma documentada no arquivo do Museu Nacional do Teatro e da Dança, esta apresentação tentará reflectir sobre o impacto dessas obras na criação de uma identidade queer nacional. Propõe-se, portanto, uma releitura de um arquivo. Fazendo a ponte desde os anos da censura e da importância da obra de Bernardo Santareno, especialmente com O Pecado de João Agonia, os anos pós-revolução são criativamente portentosos se quisermos analisar do ponto de vista queer a produção nacional. Espectáculos como os de Filipe Lá Féria na Casa da Comédia, o trabalho do Teatro da Graça (e a divulgação livre dos autores Joe Orton, Tennessee Williams, Fassbinder), os café-concertos da Comuna e de Fernando Gomes, os cabarés da Cassefaz, a importância do Teatro Experimental de Cascais com Jean Genet, a vinda do Angels in America ao Teatro Nacional Dona Maria II, os solos de Miss Coco Peru e The Night Larry Kramer Kissed Me, e as versões portuguesas de êxitos de Londres e da Broadway como The Lisbon Traviata, O Beijo da Mulher Aranha e A Minha Noite com o Gil. E ainda perceber como teatralizámos essa terrível doença dos anos 80? O arquivo do MNTD permite, através dos seus programas, fotografias, ou cartazes, perceber o arco histórico traçado por estes espectáculos e identificar o surgimento de linhas criativas que reinventam o passado, o corrigem e propõem novos caminhos. É possível fazer diversas leituras de um material assumidamente queer e ainda descobrir outras escamoteadas. Que comunidade era esta que víamos em cena e quem eram os seus espectadores? Que pontos de encontro eram estes teatros? O que era posto em cena e o que descobrimos juntos?

Para um mapeamento da memória
Carlota Castro

A presente comunicação nasce da experiência prática obtida no âmbito do projeto “REENACT NOW”, uma proposta de ativação do arquivo do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica através do corpo, por mim dirigida e produzida pelo Visões Úteis em 2023. Preludiando pela clarificação da dimensão teórica do empreendimento em causa, este, através da prática como investigação, pretendia inscrever-se no campo dos Reenactment Studies, que apenas recentemente se começou a cruzar com o setor das artes performativas. De facto, se no campo da história ou da antropologia esta era uma práxis relativamente consolidada, na área artística era ainda olhada com alguma desconfiança, pois os artistas não têm por objetivo compreender o que realmente aconteceu – se é que isso é possível –, mas sim refletir acerca das tensões entre vivacidade, mediação e a maneira como a audiência se recorda (ou não) de um determinado evento (Benzaquen-Gautier, 2020). Neste sentido, é fácil compreender que, independentemente da forma ou da finalidade com que é levado a cabo, o reenactment pressupõe, até certo ponto, o ato de imaginar. Afinal, se o passado já não existe e se o acesso ao seu acervo é limitado e condicionado por ruínas, restos mortais e tradições (Agnew, Lamb & Tomann, 2020), espera-se que o investigador seja necessariamente um criador e que tente preencher as lacunas com as quais se vai deparando. Assim, “Para um mapeamento da memória” parte desse mergulho no arquivo de um dos festivais de teatro mais emblemáticos da nossa cidade, procurando trazer à luz as dificuldades encontradas no decurso deste processo: desde críticas de imprensa até uma cassete VHS com quarenta anos de atraso na data de devolução. Num segundo momento, e correspondendo precisamente escolha do espetáculo a (re)interpretar [“Ibéria Sector 5”, da Cooperativa Bonifrates e datado de 1981], serão abordadas as metodologias de (re)criação do objeto, e as particularidades inerentes ao trabalho com uma atriz do elenco original desafiada a repetir – ou não – o mesmo papel décadas depois. Finalmente, será tratada a receção por parte da audiência: estarão os espectadores a assistir a uma reposição ou a participar na criação de uma peça nova (Benzaquen-Gautier, 2020)? Vale ressalvar que tudo isto se passou há mais de meio ano, e que traiçoeira que é a minha memória...

Seeding the digital in the physical: Geo-located sound walking practices as anarchives
Jo Scott
*Comunicação em inglês

A contribuição proposta para a conferência Arquivos Cruzados centra-se em passeios sonoros geo-localizados como anarquivos e como sementes digitais semeadas em espaços físicos. Os passeios sonoros geo-localizados são criados através da ligação de sons digitais a ambientes físicos utilizando uma aplicação web, para formar o percurso de um passeio sonoro que pode ser transmitido ou descarregado pelos participantes. A experiência é concretizada quando o participante percorre esses espaços, accionando os sons digitais através do seu movimento, que é monitorizado através do sistema de posicionamento por satélite incorporado no seu smartphone. Como criadora de passeios sonoros que "semeou" estas sementes digitais para futuras experiências de passeios sonoros nos espaços físicos de cidades e parques no Norte de Inglaterra, reflicto sobre a presença contínua dos passeios como um "anarquivo" contingente e processual. Este anarquivo semeado é feito tanto de código digital como das realidades materiais mutáveis dos espaços onde as caminhadas são posicionadas, mas só é criado através do movimento incorporado do participante. Springgay et al. (2017) comentam que "o anarquivamento é menos uma coisa do que um processo ou uma ação" (p.898) e que "as práticas de anarquivamento convidam à interação incorporada, transformando-as, como sugere Mereweather (2006), de "locais de escavação em locais de construção" (p. 146)". (p.903). Como já foi referido, é a interação incorporada que dá origem à experiência do passeio sonoro. Os sons não podem ser extraídos ou escavados do local da sua criação - estão incorporados neste espaço físico e em constante conversa com o presente do seu acontecimento, tornando-os simultaneamente uma experiência digitalmente determinada e materialmente imprevisível. Além disso, Brian Massumi (2016) descreve um anarquivo como "um mecanismo de alimentação para linhas de processo criativo, sob variação contínua", que é "ativado nos relés: entre meios, entre expressões verbais e materiais, entre arquivos digitais e off-line" (p.6). Estou particularmente interessada em explorar o que o anarquivo de um passeio sonoro geo-localizado é e faz nos "relés" actuais da sua ativação por um participante e como o "mecanismo de feed-forward" do arquivo de som interage com a "variação contínua" do ambiente físico atual. Proponho uma apresentação que utiliza a estrutura de uma caminhada guiada para conduzir os convidados através das potencialidades anarquivísticas dos sons "deixados para trás" e do que estes podem fazer nos e para os espaços físicos e sociais do seu acontecimento. Centrar-me-ei num passeio sonoro que criei para a cidade de Manchester, no Reino Unido, intitulado "Wanders in the (wild) smart city". Esta caminhada utiliza som geo-localizado, texto, gravação binaural e canção para revelar e resistir de forma lúdica à vigilância encoberta e à recolha de dados efectuada por tecnologias inteligentes incorporadas nos espaços físicos da cidade, que estão frequentemente escondidas. Através da viagem virtual proposta, reflectirei sobre o potencial persistente da caminhada - enquanto "anarquivo" e presença digital semeada nestes espaços urbanos movimentados - para perturbar e interrogar o funcionamento da "cidade inteligente" através das suas activações presentes e futuras.

O que devemos ao futuro?
Carlos Costa

Esta comunicação, com dois arquivos dentro, pretende partilhar os caminhos trilhados, os erros cometidos, as soluções encontradas - em parte graças ao próprio ARTHE - bem como a crença de que pugnar pela memória da performance - através do seu arquivo - é reforçar a inscrição social das artes performativas, legitimando-as enquanto fator de identidade. Durante 20 anos o Visões Úteis [VU] viveu assombrado por um arquivo, que lhe foi legado no momento da dissolução da Companhia Absurda, um coletivo de Belo Horizonte (Brasil), decisivo na fundação do próprio VU; este conseguiu fazer o luto mas não escapar à assombração de 5 caixas que reclamavam sentido, um destino digno para os conteúdos depositados. As primeiras tentativas para exorcizar o receio de não estarmos à altura da responsabilidade foram de cariz artístico, refletindo sobre a presença do arquivo alheio e utilizando o arquivo do VU como dispositivo de criação. Num primeiro espetáculo convidámos dois atores da geração anterior à nossa para a (aparente) ficção de um coletivo que tenta encontrar destino para o seu arquivo. Num segundo momento, imaginando a morte dos anteriores protagonistas, convidámos dois atores da geração a seguir à nossa para dar destino a um (alegado) último caixote. Estes dispositivos de criação aumentaram a nossa sensibilidade, sem resolver a questão, pelo que o passo seguinte foi uma megalómana tentativa de a solucionar de um modo geral: mobilizámos a atenção da Torre do Tombo, acreditando que uma solução de cima para baixo seria a mais eficaz, o que não se verificou, apesar de toda a boa vontade do Arquivo Nacional. Pareceu então que nos faltava conhecimento sobre o campo em que pretendíamos atuar, pelo que iniciámos uma aproximação à Universidade de Coimbra que nos levou a um colóquio e publicação sobre práticas de arquivo em artes performativas, ao arranque de uma série de eventos filiados no campo dos Reenactment Studies e ao próprio projeto ARTHE. No final deste processo, entre angústias, erros, hesitações, recuos, aprendizagem, percebemos que a urgência já não era apenas a do arquivo da Companhia Absurda mas também a do nosso próprio arquivo, agora que nos aproximávamos dos 30 anos de atividade. Quis então a fortuna que o acervo dos nossos pares brasileiros voasse para o Brasil, com a esperança do merecido tratamento. E porque a fortuna se move em espirais, tivemos o privilégio de conhecer algumas das experiências ARTHE, que logo nos convenceram que não seria de cima para baixo mas de baixo para cima que encontraríamos uma solução para o arquivo do VU. Dirigimo-nos assim ao Arquivo Histórico Municipal do Porto, onde encontrámos a disponibilidade preliminar para colaborar no tratamento do nosso arquivo, permitindo a sua melhor utilização enquanto ferramenta de trabalho e facilitando a posterior decisão política de integração no Arquivo Histórico Municipal: a primeira visita dos técnicos ao VU decorre precisamente na manhã do dia 12 de dezembro de 2023, ao mesmo tempo que decorrem as sessões da Conferência Internacional Arquivos Cruzados; mais uma curva na ilimitada linha da fortuna.

The SPA (University of Malta) Digital Archive: Preserving and researching the performing arts in Malta 
Vicki Ann Cremona e Marco Galea
*Comunicação em inglês

O Arquivo da Escola de Artes Performativas desenvolveu-se a partir dos esforços dos académicos de Estudos Teatrais da Universidade de Malta para documentar as artes performativas no país. O contexto imediato era que a história do teatro local não era suficientemente investigada, sendo os principais problemas o facto de a natureza geralmente amadora da prática teatral significar que os artistas sentiam pouca necessidade ou não tinham recursos para documentar o seu trabalho. Por outro lado, as instituições nacionais, como a Biblioteca Nacional e os Arquivos Nacionais, ignoravam geralmente estas práticas. Como resultado, muitos artistas desapareceram da memória e a investigação do seu trabalho tornou-se cada vez mais difícil. A filosofia que deu origem ao arquivo foi sempre muito pragmática, ou seja, tentar documentar o desempenho passado e presente de uma forma padronizada com muito poucos recursos humanos, financeiros e espaciais. O arquivo evoluiu para uma coleção digital constituída por cópias de artefactos (textos de peças, programas, cartazes, fotografias, correspondência, etc.). São criados metadados para cada item e os ficheiros digitais e respectivos metadados são depositados num repositório alojado na biblioteca da Universidade de Malta e disponibilizados aos investigadores através da plataforma Open Access. Este sistema relativamente simples permitiu-nos digitalizar (e possivelmente salvar do esquecimento) milhares de artefactos em menos de uma década e disponibilizar tudo a investigadores e teatrólogos. Isto também nos permitiu ganhar a confiança de cada vez mais teatrólogos e instituições de teatro que, cada vez mais, emprestam ou doam material para a coleção. A apresentação abordará os principais aspectos da prática (incluindo a relação com as partes interessadas), bem como os desafios e limitações do modelo que adoptámos. A discussão abordará depois os planos para a solidificação da coleção e ideias para tornar o arquivo uma melhor ferramenta para os investigadores.

Frameworks for co-creating historical archives
Andi Johnson
*Comunicação em inglês

Recentemente, duas companhias de dança independentes do Reino Unido juntaram-se para formar uma nova companhia de dança e performance. Entre estas duas companhias, contam-se 60 anos de história no domínio da performance e da investigação em dança, com início na década de 1990. Embora estas companhias tenham os seus próprios arquivos individuais, a sua presença arquivística é mínima em espaços de curadoria físicos e digitais. Entre 2023 e 2027, estarei a trabalhar num projeto de investigação que visa desenvolver estes arquivos em contextos baseados na prática, em colaboração com a nova companhia. O objetivo final deste trabalho é criar enquadramentos que possam servir de guia para uma variedade de organizações baseadas na performance que pretendam gerir os seus próprios arquivos. Nesta conferência, pretendo apresentar a minha análise inicial do projeto, centrando-me no estabelecimento dos arquivos históricos para estas empresas e na forma como as práticas de investigação podem revelar as melhores práticas para atingir este objetivo. Muitos arquivos anteriores foram criados sem a consulta de um bibliotecário ou arquivista com formação (Sant, 2017; Whatley, 2013). Como bibliotecária de formação, estabeleço esta investigação através das áreas de Estudos de Dança e Performance, Estudos de Museus e Arquivos e Estudos de Media Digitais. Ao fazê-lo, espero aplicar aspectos mais técnicos do trabalho de preservação, como a criação de estruturas para colecções, o design da experiência do utilizador e a análise de colecções na criação de colecções de performance independentes. Ao participar nesta investigação, espero abordar as seguintes questões para construir e envolver os arquivos das empresas anteriormente estabelecidas:

- Como é que podemos, em colaboração, criar estruturas iniciais para estabelecer estes arquivos de forma sustentável?

- Como é que nos baseamos nos arquivos para expandir o que sabemos sobre a história destas empresas?

- Quais são os impactos históricos e como os medimos e conservamos através dos arquivos?

Através de metodologias de prática como investigação e centrando-se nas práticas reflexivas das artes criativas (Candy, 2019) como formas de construção de arquivos históricos, esta investigação alcançará o objetivo final de desenvolver um arquivo histórico de dança e uma curadoria que tece as histórias de duas companhias de dança que historicamente envolveram as suas comunidades de diferentes formas. Em seguida, utilizaremos esta análise histórica para determinar onde a companhia precisa de continuar a desenvolver-se e a crescer, olhando para questões de diversidade, inclusão, equidade e crescimento social. Esta apresentação centrar-se-á nos planos para atingir estes objectivos através dos seguintes meios:

1.         Rastrear as actividades e o financiamento da organização relativamente a outros eventos na altura. A organização desenvolveu eventos que criaram impactos para comunidades específicas?

2.         Trabalhar com uma organização num esforço de co-colaboração para desenvolver arquivos e compromissos como investigador integrado.

3.         Formas de representar dados sobre os impactos das actividades das empresas que possam ser compreendidos por audiências externas.

Uma vez que a investigação se encontra na fase inicial de planeamento, esta apresentação espera recolher feedback de outros profissionais da área com experiência na criação de arquivos. Ao receber feedback, a investigação pode ser estabelecida de forma a ser mais proactiva na colaboração com a organização.

Documentos da exposição colonial de 1931 em diálogo: articulando arquivos transnacionalmente
Juliana Coelho

Um grupo de cinquenta e um performers balineses se apresentou durante dois meses na Exposição Colonial de 1931, no Bosque de Vincennes, na França. Nos estudos teatrais, essa estadia balinesa é particularmente importante, pois foi nessa ocasião que Antonin Artaud assistiu o que ele chamou de “teatro balinês”. A partir da confrontação com esses performers, Artaud teve a revelação de que um outro teatro seria possível, e escreveu “Le Théâtre Balinais, à l’Exposition Coloniale”, publicado na La Nouvelle Revue française, no mesmo ano. Um dos propósitos do projeto “Arquivos e Narrativas: a experiência balinesa na Exposição Colonial de 1931” é o de investigar esse evento buscando igualmente compreender este acontecimento sob a perspectiva dos balineses, além de identificar os possíveis desdobramentos dessa experiência em Bali. Para tal, diferentes e numerosos arquivos foram acessados, institucionais e familiares, na França, nos Países-Baixos e na Indonésia, com o intuito de reunir, analisar documentos e colher depoimentos remanescentes dos artistas balineses que lá se apresentaram, procurando também expandir o conhecimento sobre esse evento. É importante destacar que a experiência dos performers balineses insere-se em um contexto mais amplo de práticas de exibição de nativos colonizados, que não foi inaugurado pela Exposição Colonial de 1931, mas que nela encontra um de seus marcos. As Exposições coloniais se difundiram, especialmente na França, a partir dos villages indigènes, presentes nas Exposições Universais. Deve-se salientar que, no interior deste evento, coexistiram diversas formas de teatralização da vida nas colônias e do comportamento social dos colonizados. Como os países metropolitanos da Exposição de 1931 estabeleciam diferentes relações administrativas e de uso de poder em cada colônia, essa teatralização do “mundo colonial” configurou-se igualmente heterogênea. A proposta da presente comunicação é apresentar um exercício criativo de articulação e de diálogo entre os diferentes tipos de documentos escolhidos em alguns dos arquivos dessa pesquisa: os arquivos nacionais neerlandeses e indonésios, os arquivos ultramarinhos franceses; as bibliotecas nacionais da França e da Indonésia, os fundos documentais do KITLV/Instituto Real Holandês de Estudos do Sudeste Asiático e do Caribe e do Tropenmuseum, os arquivos familiares de I Made Regog, Cokorda Gede Agung Sukawati e os depoimentos das famílias de Cokorda Tublen, I Nyoman Kakul e Anak Agung Mandera

Arquivar e reativar o teatro música português
Filipa Magalhães

As produções de teatro música em Portugal compostas a partir de 1970 apresentam inúmeros desafios no que respeita à sua preservação, especialmente no contexto da arquivística. Atualmente as maiores dificuldades que este género performativo enfrenta relacionam-se com a obsolescência tecnológica, com a dispersão dos acervos e com a falta de testemunhos sobre este tipo de práticas colaborativas e performativas. Parte da documentação de teatro música encontra-se dispersa entre várias instituições e acervos pessoais. As instituições ainda não dispõem de meios ou recursos humanos centralizados para tratar documentação tão específica, que inclui: eletroacústica (gravação em fita magnética), partituras/partituras gráficas, guiões, notas/esboços do compositor e performers, imagens, objetos, adereços, entre outros. Consequentemente, alguns desses documentos já não estão em condições de ser utilizados, estão dispersos e outros estão ainda em risco de perecer. As obras de teatro música baseiam-se em linguagens idiossincráticas e práticas performativas não-convencionais, que é preciso saber identificar e analisar. Nesse sentido, é muitas vezes necessário recorrer aos participantes dessas performances (performers, encenadores, técnicos de som, light designers, etc.) para entender aspetos performativos inerentes ao processo de criação colaborativo, que só a partir da documentação não é possível descortinar e, ainda, compreender as relações entre os vários documentos de arquivo. Musicologicamente falando, em termos metodológicos é essencial fazer uma investigação arqueológica, por isso nesta minha abordagem utilizo o conceito ‘musicologia arqueológica’, na medida em que se procede à organização e sistematização de toda a documentação recolhida. Este é um grande desafio para os musicólogos, mas também para os arquivistas, pois só através de um trabalho colaborativo entre ambas as áreas do conhecimento se consegue arquivar e reativar o género performativo teatro música. Nesta comunicação, proponho debater alguns dos processos utilizados no tratamento e recuperação da documentação relativa às obras de teatro música, apresentando a título de exemplo alguns casos concretos de acervos de compositores portugueses comprometidos com este género. As dificuldades acima elencadas têm seguramente implicações nas práticas arquivísticas e afetam a reprodutibilidade das produções de teatro música. Uma questão à qual procuro responder é: como poderemos estabelecer relações entre os vários documentos existentes numa produção de teatro música para que a obra seja entendida numa perspetiva holística? O teatro música é um património cultural em risco de perecer, que, pelos problemas efetivos que apresenta, deve ser devidamente tratado e salvaguardado para uma possível reativação e apresentação ao público.

Como arquivar o som dos espetáculos? 
Os desafios do projeto "Arquivos sonoros de teatro"
Rafaella Uhiara

Esta comunicação propõe uma reflexão sobre uma lacuna importante no campo das Artes Cênicas: a ausência de bases metodológicas e documentais para pesquisas sobre a dimensão sonora dos espetáculos. Tal questão é o centro do projeto “Arquivos sonoros de teatro”, elaborado em resposta a uma necessidade concreta imposta ao Centro de Documentação Teatral da Universidade de São Paulo no momento em que ele adquire o espólio de Tunica Teixeira, sonoplasta que trabalhou durante 48 anos com os principais nomes do teatro paulista. Seu acervo compreende documentos sonoros em diferentes suportes, muitos deles obsoletos, além de traços deixados pela atividade técnica e criativa da sonoplasta: cadernos de criação, textos anotados, roteiros de operação, riders com especificações dos equipamentos, mapas de implantação dos equipamentos sonoros. Considerando que o som, diferentemente da visualidade, nunca gozou do mesmo prestígio nem do mesmo interesse por parte dos pesquisadores em artes cênicas, a equipe deste centro de documentação constata a necessidade de um importante trabalho de base para tratamento desse conjunto documental, que envolve desde um trabalho de definição de termos e conceitos até o levantamento dos diversos documentos gerados pelo processo de criação sonora dos espetáculos. Dada a extensão do trabalho, o projeto reúne uma equipe multidisciplinar e multinacional, com pesquisadores experientes e pioneiros na área, em torno de 4 eixos de trabalho. O primeiro é dedicado ao estudo do vocabulário utilizado para designar os diversos elementos que compõem a dimensão sonora do teatro, cujos termos são mal definidos, polissêmicos e, muitas vezes, controversos. O segundo eixo tem o objetivo de inventariar os variados documentos gerados pelas diversas criações sonoras, levantando metodologias para interpretá-los. Evidentemente, este eixo – assim como o projeto como um todo – não almeja um inventário exaustivo, mas o início de um trabalho, a partir de um acervo modelo, que servirá como referência para pesquisas futuras. O terceiro eixo é voltado para as questões de conservação do acervo multimídia tanto em termos materiais quanto digitais, abrindo para a reflexão sobre o modo como o meio digital pode modificar o pensamento sobre os documentos tanto na organização interna quanto na difusão. Neste sentido, a equipe se nutre das discussões levantadas pelas Humanidades Digitais. Por fim, o quarto e último eixo, visa a análise dos usos de documentos sonoros nas artes cênicas tanto no processo criativo, quanto na utilização em cena, difundido tal qual, em forma de ready-made, ou, mais discretamente, no verbatim. Além do aspecto analítico, este eixo também prevê a abertura para experimentação artística com arquivos sonoros, visando uma aproximação da pesquisa e dos arquivos com as comunidades técnica e artística. O projeto, recém iniciado, em 1º de outubro de 2023, tem financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo vigente até setembro de 2028, e está sendo desenvolvido em parceria com o laboratório francês THALIM (CNRS/ENS/Université Sorbonne Nouvelle). 

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